sexta-feira, 28 de setembro de 2012

MÚLTIPLOS OLHARES NA MESMA DIREÇÃO: PROPOSTAS DOS EDUCADORES PARA A REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE PORTO ALEGRE



Os educadores através da Associação dos Trabalhadores em Educação do Município de Porto Alegre/ ATEMPA, apontaram a necessidade de debater e contribuir para a construção de um projeto político-pedagógico da Rede Municipal de Ensino/RME.

Nos últimos anos a ausência de debates que atendam às demandas das escolas tem agravado cada vez mais as lacunas político-pedagógicas. A administração atual não os promove e não possui uma política educacional clara. Parâmetros curriculares são apresentados como listagem de conteúdos, sistemas avaliativos são pautados em dados estatísticos com o objetivo menor de serem politicamente capitalizados pela administração. As prioridades são definidas sem a participação da comunidade escolar e a autonomia pedagógica administrativa das escolas é desrespeitada.

Nesta conjuntura foi realizado o Encontro de Educadores no segundo semestre de 2012.

O debate iniciou no coletivo das escolas da Rede Municipal de Ensino que apontaram temas para o Encontro. Muitos são os temas que envolvem o cotidiano escolar, foi necessário priorizar os três mais recorrentes para iniciar o debate nesse primeiro Encontro dos Educadores no Município de Porto Alegre. São eles:
·         Gestão democrática
·         Inclusão escolar
·         Condições de trabalho e saúde do trabalhador

Definidos os temas, os educadores de cada escola diagnosticaram problemas, analisaram cada um e apontaram proposições que foram debatidas uma a uma e aprovadas no Encontro realizado nos dias 25 de agosto, 1º e 12 de setembro do corrente ano.

Cada tema debatido se desdobrou em dezenas de providências, ações e decisões na perspectiva de:
·         estabelecer relações democráticas entre o poder público, os professores e a comunidade;
·         garantir uma prática pedagógica qualificada e comprometida com a inclusão escolar adequada à realidade dos alunos matriculados e, portanto atendidos na RME;
·         oferecer condições dignas de trabalho e salubridade laboral para os trabalhadores.

O processo de gestão democrática, historicamente construído pelos educadores junto às comunidades, vem sofrendo constantes ataques da atual administração. A Secretaria Municipal de Educação/SMED ignora a autonomia das Escolas, desrespeita as decisões dos Conselhos Escolares, intervêm nos calendários letivos desconsiderando a legislação. Instaura sindicâncias contra diretores (as) como forma de punição pela participação em atividades sindicais e desconsidera a legitimidade das direções eleitas. A secretaria não deu consequência aos Projetos Político-pedagógicos e Regimentos Escolares, construídos coletivamente pelas comunidades, impedindo a efetivação dos mesmos. Estas são algumas ações da administração que evidenciam uma postura autoritária e intervencionista.

Para tanto, os educadores da Rede Municipal de Ensino apresentam as proposições abaixo sobre gestão democrática:

1.    Acatar as instâncias de gestão democrática definidas em legislação específica: Congresso Municipal, Conselho Municipal de Educação-CME, Conselhos Escolares-CE e direções de escolas;
2.    Retomar o debate sobre a importância do Conselho Escolar, recolocando-o como o órgão máximo representativo, democraticamente capaz de garantir:
·         Um calendário escolar que atenda as necessidades e características de cada comunidade;
·         O investimento responsável dos recursos ordenados pela comunidade escolar;
·         O acompanhamento da política pedagógica e a avaliação dos alunos atendidos por cada escola;
3.    Encaminhar, imediatamente, os Projetos Político - Pedagógicos –PPPs e Regimentos Escolares ao Conselho Municipal de Educação;
4.    Assegurar a realização do Congresso Municipal de Educação com ampla participação da comunidade escolar e das entidades representativas dos trabalhadores em educação – ATEMPA e dos municipários – SIMPA, com respeito aos prazos legais previstos e as deliberações aprovadas;
5.    Instituir Fóruns que garantam a participação da comunidade escolar nas discussões sobre o Plano Municipal de Educação;
6.    Garantir espaço de diálogo entre as escolas infantis, comuns e especiais;
7.    Estabelecer uma política consistente de Recursos Humanos - RH, que contemple o funcionamento efetivo das escolas e o atendimento aos direitos dos trabalhadores em educação, suprindo as necessidades de RH antes do início do ano letivo;
8.    Ofertar assessoria com qualidade pedagógica às escolas e encontros entre trabalhadores em educação, com vinculação ao projeto político pedagógico de cada escola da Rede Municipal de Ensino;
9.    Reconhecer e legitimar as atividades da ATEMPA como formação continuada no calendário escolar;
10. Realizar formações para as equipes diretivas com ênfase nos aspectos pedagógicos;
11. Retomar a formação continuada para todos os membros dos Conselhos Escolares;
12. Retomar a política cultural da SMED, valorizando os profissionais da Rede Municipal de Ensino/ RME;
13. Destinar verbas, com critérios definidos, para melhorias e reformas na estrutura dos prédios escolares;
14. Revisar a tipologia das escolas, adequando a dotação de recursos - materiais e humanos- às necessidades das comunidades;
15. Garantir o gozo de Licença Prêmio aos Trabalhadores em Educação, no período de sua preferência;
16. Garantir um terço (1/3) da carga horária como hora- atividade para todos os professores da Educação Básica - Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio;
17. Instituir Plano de carreira para os funcionários e monitores;
18. Realizar concurso público para todos os cargos da escola, em especial para o quadro geral e professores;
19. Discutir, elaborar e divulgar critérios para mobilidade de Recursos Humanos na Rede Municipal de Ensino;
20. Reafirmar como parâmetros de avaliação institucional os princípios da avaliação emancipatória, dialogicidade e formação permanente, com participação popular e caráter eminentemente qualitativo, rejeitando concepções meritocráticas, gerencialistas e neoliberais;
21. Realizar chamada pública e campanha de divulgação de vagas de modo a estimular as matrículas permanentes na EJA, sob a responsabilidade da mantenedora, com ampla divulgação nos meios de comunicação de massa e órgãos alternativos (rádios comunitárias, sindicatos, cooperativas);
22. Manter a EJA como modalidade de educação básica na sua especificidade, conforme consta na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e Resoluções vigentes, respeitando as peculiaridades do público com o qual trabalha, com um currículo que contemple, administrativa e pedagogicamente, os educandos jovens e adultos;
23. Ampliar o acesso à EJA nos três turnos de forma regionalizada, em toda a cidade;
24. Assegurar a presença de professores concursados atuando com 20h na mesma escola de EJA, com aulas presenciais que permitam a interação, a troca e o diálogo, mediado ou não por velhas e novas linguagens tecnológicas com a necessária continuidade na relação professor aluno que exige a aprendizagem.

A inclusão escolar de alunos com Necessidades Educativas Especiais/NEEs é uma realidade. A Rede Municipal de Ensino atende 50% das matrículas destes alunos em Porto Alegre. Mesmo com o compromisso dos educadores, a Secretaria de Educação não tem um projeto político pedagógico específico para a inclusão, oferecendo estrutura insuficiente e inadequada. A educação inclusiva não está regulamentada no Sistema Municipal de Ensino. Há uma distância entre a inclusão como princípio e a inclusão como prática, que pode ser verificada em diversos fatores: número elevado de estudantes nas turmas com alunos incluídos, falta de profissionais de apoio, insuficiência na rede de atendimento, ausência e dificuldades na acessibilidade.

Em relação à inclusão escolar os educadores da Rede Municipal de Ensino apresentam as seguintes proposições:

  1. Regulamentar a educação especial na perspectiva da educação inclusiva;
  2. Discutir e construir coletivamente uma proposta curricular que atenda os alunos com NEEs, definindo a concepção da RME e reestruturando o trabalho pedagógico nas turmas;
  3. Garantir na regulamentação municipal a docência compartilhada nas turmas com alunos de inclusão;
  4. Construir marcos legais para garantir e legitimar os movimentos de alunos entre as totalidades /EJA;
  5. Nomear profissionais concursados (monitores) especificamente para trabalhar com alunos de inclusão nas escolas comuns, EMEIs e EJA;
  6. Garantir recursos humanos com formação específica para o atendimento dos alunos de inclusão;
  7. Garantir profissionais exclusivamente para o atendimento pedagógico, de saúde e higiene;
  8. Aumentar a carga horária de Sala de Integração e Recursos- SIR e Laboratório de Aprendizagem- LA;
  9. Garantir o atendimento da SIR e laboratório de aprendizagem no mesmo turno da aula;
  10. Ampliar o atendimento para todos os alunos que necessitam do laboratório de aprendizagem e atendimentos especializados, inclusive aqueles que frequentam EJA e turmas de progressão;
  11. Garantir o atendimento da SIR e vagas no Programa de Trabalho Educativo-PTE para os alunos da EJA;
  12. Ampliar o atendimento de Educação Precoce/EP e Psicopedagogia Inicial/PI;
  13. Promover debates sistemáticos na RME sobre o tema inclusão escolar;
  14. Realizar Fórum permanente da Rede Municipal de Ensino- RME (SMED, Escolas Infantis, Escolas Comuns, Escolas Especiais, Educação de Jovens e Adultos - EJA, SIR) abordando a educação inclusiva;
  15. Reconhecer e legitimar as formações realizadas fora da escola;
  16. Ampliar a Assessoria da SMED de forma efetiva e qualificada para inclusão social;
  17. Articular Escolas Infantis, Escolas Comuns, Escolas Especiais e SIR na perspectiva da educação inclusiva;
  18. Articular as políticas públicas de educação, saúde, assistência social, geração de trabalho e renda, cultura, esporte e lazer, de forma integrada, regionalizada e capitalizada, somando esforços para assegurar, efetivamente, uma política de inclusão ampla, através da rede de atendimento;
  19. Avaliar minuciosamente a estrutura das escolas, fazendo cumprir a lei de acessibilidade, desde a etapa dos projetos para a construção de prédios escolares, reformas dos prédios já existentes e outros prédios públicos;
  20. Priorizar nas escolas, projetos que atendam alunos com Necessidades Educativas Especiais;
  21. Diminuir o número de alunos nas turmas com alunos de inclusão;
  22. Afirmar a importância das Escolas Especiais na inclusão de alunos com deficiências associadas, transtornos globais do desenvolvimento, numa visão ampliada para a RME em todas as etapas e modalidades;
  23. Debater sobre a aplicação da gratificação de 50% para os trabalhadores em educação que trabalham com alunos de inclusão;
  24. Discutir a aplicação dos recursos para qualificar o atendimento dos NEEs;
  25. Elaborar projetos de inclusão para a captação e utilização de verbas federais disponíveis;
  26. Discutir um regime de colaboração para a continuidade da formação dos alunos de inclusão;
  27. Desburocratizar e ampliar a rede multidisciplinar da Assessoria Técnica e Articulação em Redes (ATAR) com psicólogo, fonoaudiólogo, assistente social e psicopedagogo;
  28. Afirmar a concepção de inclusão social e escolar na perspectiva da educação popular contra hegemônica, assegurando o respeito às diversidades étnico raciais, de gênero, de geração, de habilidades e culturas e, ao mesmo tempo, fazer o bom combate às desigualdades e injustiças sociais expresso no PPP e vivenciado na práxis pedagógica;
  29. Ampliar e potencializar o Fórum para a Inclusão Escolar, sistematicamente, junto às escolas comuns, construindo parceria com o ensino especial;
  30. Investir na ampliação da tecnologia assistiva em todos os espaços educativos e não somente nas salas especializadas.
O terceiro, e último tema deste documento se refere às condições de trabalho e saúde do trabalhador. 

Os trabalhadores da RME prestam um serviço fundamental à grande parte da população em situação de vulnerabilidade social. Desta forma, as condições de trabalho têm grande importância na função docente e de todos os envolvidos na rotina escolar. O governo não garante as condições necessárias ao desempenho da profissão, acentuando situações que levam ao adoecimento, pois não há uma política de saúde preventiva. Os trabalhadores necessitam de plano de saúde, de ações conjuntas de enfrentamento à violência nas escolas e no seu entorno, e um atendimento na biometria  compatível com o estado de saúde dos trabalhadores.

Assim, após o debate, sobre condições de trabalho e saúde do trabalhador, os educadores propõem:

  1. Garantir plano de saúde aos trabalhadores em educação;
  2. Investir em programas de saúde preventiva para os trabalhadores em educação, ofertando vacinas e tratamentos;
  3. Criar legislação sobre saúde e segurança do trabalho para os estatutários;
  4. Instaurar a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) associada ao Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) da prefeitura SESMT comparecer nas escolas para fazer a prevenção das doenças e acidentes do trabalho;
  5. Realizar pesquisas sistemáticas, garantindo a divulgação e encaminhamentos sobre o processo de adoecimento dos trabalhadores em educação e a Síndrome de Burnout com vistas à implementação de ações preventivas de qualificação do trabalho docente;
  6. Garantir infraestrutura pedagógica e Recurso Humanos para todas as escolas da RME, assegurando nas escolas de Ensino Fundamental e Médio em todas as modalidades o atendimento do Serviço de Orientação Escolar/SOE, Laboratório de Aprendizagem, a Sala de Integração e Recursos - Sir para todos os alunos, no contra turno e/ou no turno em que frequentam a escola;
  7. Regulamentar a criação e adaptação dos prédios escolares com conforto acústico, térmico e ambiental;
  8. Criar e divulgar os serviços de apoio ao trabalhador;
  9. Criar condições adequadas de infraestrutura e recursos humanos para a ampliação da jornada escolar;
  10. Reforçar a segurança nas escolas, garantindo a presença da guarda municipal em todas as Escolas, em todos os turnos de funcionamento;
  11. Oferecer microfones em sala de aula, técnica vocal, ginástica laboral, quadros brancos;
  12. Garantir locais específicos e adequados para Educação Física;
  13. Distribuir protetor solar aos professores de Educação Física;
  14. Garantir RH de acordo com a proposta curricular por ciclos de formação, EI e EJA para não sobrecarregar a carga horária dos educadores;
  15. Substituir imediatamente os profissionais em Licença Aguardando Aposentadoria;
  16. Garantir o gozo da Licença Prêmio, evitando o adoecimento do trabalhador;
  17. Reorganizar os espaços para acolher os Portadores de Deficiência garantindo a acessibilidade para os trabalhadores em educação;
  18. Não contabilizar na relação adulto/criança os estagiários nas Escolas Infantis;
  19. Estender as condições de trabalho das EMEFs para as EMEI, viabilizando a compensação semanal de carga horária, recesso escolar, intervalos e difícil acesso aos profissionais que atuam na Educação Infantil;
  20. Humanizar e desburocratizar o atendimento na biometria, ampliando o tempo para apresentação após o afastamento do servidor, com a possibilidade da chefia imediata enviar o formulário de exame médico pericial por meio eletrônico;
  21. Promover ações que garantam o fim do assédio moral.

O conjunto de proposições debatidas no primeiro Encontro de Educadores organizado pela ATEMPA e apresentadas acima, são uma contribuição para o crescimento e qualificação da Educação nas Escolas Comuns, Infantis e de Jovens e Adultos. Os educadores acreditam na gestão democrática e na prática da construção coletiva.

Com a convicção de que é necessário aprofundar e consolidar estes e outros temas para o aprimoramento e qualificação do ensino na Rede Municipal de Porto Alegre, colocamo-nos a disposição.


Trabalhadores em Educação da Rede Municipal de Ensino e
ATEMPA


Porto Alegre, 12 de setembro de 2012.


Comissão organizadora do Encontro:
Alexandre Wood, 
Anézia Viero,
Arine Cogo,
Dinéia Pires,
Laura Bonani Cunha,
Marco Antônio Mello,
Mara Amaral,
Mary Inês Vivian,
Raul Rebello Jr, 
Silvana Moraes,
Solange Correa


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